Carta aberta aos professores

Senhores professores,

A minha geração jogava vídeo game sabendo que
havia um limite, isto é, o jogo acabava em
determinado momento quando aparecia na tela a
mensagem “Game Over”. Antes, a transição entre uma
geração e outra era de trinta anos, passou a ser
vinte anos, dez anos. E hoje? Não temos resposta.
Cinco anos talvez. Nos jogos eletrônicos de hoje
em dia, despareceu aquela mensagem ao final, “Game
Over”. Eles não terminam. Prosseguem incansáveis.

Qual o papel do professor nessa sociedade do
excesso, do exagero, da falta de limites, do
consumo prazer a qualquer custo? Hoje
presenciamos uma triste realidade onde muitos
alunos perderam o respeito pela autoridade, em
muitos casos chegando a agredir o professor em
sala de aula.

Nessa conjuntura, as drogas circulam entre alunos,
fora e dentro dos muros da escola. A pressão do grupo
e dos amigos? A curiosidade tão inerente da
adolescência? Os valores que se perderam?
Os genitores desaprenderam a educar em
casa? A solidão dos desejos em busca de uma
saciedade vaga.

Uma parceria entre a escola e a família torna-se
urgente. A prevenção é um processo, necessita de
repetição, reforço constante, e não ser abordada
de vez em quando.

O instrumento que temos nas nossas mãos é a
informação clara, precisa e baseada em evidências.
Podemos mudar a nossa casa, a rua, o bairro, a
escola, a sociedade com a nossa capacidade de
conscientizar. Mostrar aos alunos que existe uma
confrontação ética entre certas vontades e os
limites que a realidade impõe. Usar drogas pode
dar um barato instantâneo, mas o cérebro, a saúde
e a vida irão cobrar um preço alto. O professor tem um
papel central nessa sociedade que muda a todo
instante, mas que deve manter os valores de saúde,
segurança, respeito e ética como uma finalidade
maior.

Qual a glória de um professor? A capacidade de
mostrar aos alunos novas possibilidade,
interesses, o gosto em aprender. Preencher vidas
com a garra do saber. Essa mesma garra que nos
transformou na espécie Homo sapiens (sapiens
significa “que sabe”) há duzentos mil anos sobre a
Terra. A Revolução Cognitiva que nos favoreceu.
Gratidão aos professores por serem a base da
construção de uma sociedade. Eu me tornei médico
e cidadão graças aos professores.

Vamos juntos, família, escola, profissionais de
saúde e todos os demais setores da sociedade civil
cuidar das gerações vindouras. Esperança. A escola
não pode ser um labirinto de drogas e nem de detector
de metais. Precisa voltar a ser a base da criatividade
e da conexão com a vida.

Ziyad Hadi
Psiquiatra

Ver também:
Carta aberta aos pais
A partir de que idade conversar sobre drogas com os filhos?

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